Os perigos do nacionalismo conservador, por Gilberto Maringoni
Não há pronunciamentos dirigidos às maiorias e nem agenda com entidades populares e de trabalhadores. Não há apelo à mobilização social.
Do GGN, 16 de julho de 2025
Por Gilberto Maringoni
Há uma mudança significativa na conjuntura: o governo saiu das cordas, colocou a direita (centrão e parte do empresariado e da mídia) e a extrema-direita contra a parede. Três eventos geraram a nova situação. Pela ordem são: A ofensiva tarifária de Donald Trump; A reação petista-governista à derrota na votação das alíquotas do IOF na Câmara, na linha do “pobres contra ricos”; A acachapante vitória de Edinho Silva, candidato de Lula, nas eleições internas do PT.
A exagerada elevação das tarifas nos EUA suscitou a reação “União nacional contra agressão externa”, impulsionada pelo governo federal. Ela mostra inegável força para a consolidação de uma ampla frente anti-imperialista. As pesquisas começam a mostrar não apenas a recuperação da popularidade do governo, como o rechaço popular à investida de Donald Trump e o desmantelamento do discurso da extrema-direita. O clã Bolsonaro e seus capangas Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Jr. se enrolam num redemoinho sem fim. O empresariado e a mídia se descolam do extremismo e ensaiam uma aproximação em direção a Lula.
O governo caminha na direção correta num plano geral, apesar de um sério problema que pode comprometer a efetividade de sua ação. Tanto as intervenções do presidente quanto a ação governista trafegam no sentido de um nacionalismo sem povo. Há acordos com as classes dominantes (agronegócio, indústria, mundo financeiro e direita política) sem articulação na base da sociedade. Ou seja, depois de espancar os “super-ricos”, é apenas com eles que o Planalto busca conversar.
Não há pronunciamentos dirigidos às maiorias e nem agenda com entidades populares e de trabalhadores. Não há apelo à mobilização social.
Por enquanto tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, como nos versos do antigo sucesso da Blitz. O problema é que uma frente nesses moldes implica compromissos e seletividade de sacrifícios. Empresários terão quedas em seus ganhos, mas os trabalhadores podem amargar aumento de desemprego e de direitos diante do tsunami trumpista.
Tirar os setores populares de cena torna a frente instável e suscetível a qualquer chantagem por parte de quem até ontem perfilava-se com o fascismo. Ainda mais para uma composição que deve vertebrar os setores democráticos até as eleições de 2026.
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepautaggn@gmail.com. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grupo de Pesquisa Sul-Sur
Este grupo se insere numa das linhas de pesquisa do LABMUNDO-BA/NPGA/EA/UFBA, Laboratório de Análise Política Mundial, Bahia, do Núcleo de Pós-graduação da Escola de Administração da UFBA. O grupo é formado por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e de diferentes instituições públicas de ensino e pesquisa.
Buscamos nos apropriar do conhecimento das inter-relações das dinâmicas socioespaciais (políticas, econômicas, culturais) dos países da América do Sul, especialmente do Brasil, da Bolívia, da Argentina e do Chile, privilegiando a análise histórica, que nos permite captar as especificidades do chamado “subdesenvolvimento”, expressas, claramente, na organização das economias dos diversos povos, nos grupos sociais, no espaço.
Nosso campo de investigação dialoga com os campos da Geopolítica, Geografia Crítica, da Economia Política e da Ecologia Política. Pretendemos compreender as novas cartografias que vêm se desenhando na América do Sul nos dois circuitos da economia postulados por Milton Santos, o circuito inferior e o circuito superior. Construiremos, desse modo, algumas cartografias de ação, inspirados na proposta da socióloga Ana Clara Torres Ribeiro, especialmente dos diversos movimentos sociopolíticos dessa região, das últimas décadas do século XX à contemporaneidade.
Interessa-nos, sobretudo, a compreensão e a visibilidade das diferentes reações e movimentos dos países do Sul à dinâmica hegemônica global, os espaços de cooperação e integração criados, as potencialidades de criação de novos espaços e os seus significados para o fortalecimento da integração e da cooperação entre os países do Sul, do ponto de vista de outros paradigmas de civilização, a partir de uma epistemologia do sul. Através das cartografias de ação, buscamos perceber as antigas e novas formas de organização social e política, bem como os espaços de cooperação SUL-SUL aí gestados. Consideramos a integração e a cooperação Sul-Sul como espaços potenciais da construção de novos caminhos de civilização que superem a violência do desenvolvimento da forma em que ele é postulado e praticado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário