De OutrasPalavras, 28 de julho 2025
Por Eduardo Toledo
1. Introdução – o corpo, o ambiente e a origem dos alimentos
Em um mundo cada vez mais desconectado de seus territórios, torna-se urgente repensar nossas escolhas alimentares. A tese que proponho aqui é simples, embora profunda: a comida mais adequada para um determinado grupo humano é, via de regra, aquela que nasce de seu próprio território — em seu clima, seu solo, sua biodiversidade e seus ritmos.
Por Eduardo Toledo
1. Introdução – o corpo, o ambiente e a origem dos alimentos
Em um mundo cada vez mais desconectado de seus territórios, torna-se urgente repensar nossas escolhas alimentares. A tese que proponho aqui é simples, embora profunda: a comida mais adequada para um determinado grupo humano é, via de regra, aquela que nasce de seu próprio território — em seu clima, seu solo, sua biodiversidade e seus ritmos.
2. O corpo humano é um ecossistema local
Nosso sistema digestivo abriga trilhões de micro-organismos (a microbiota intestinal), que desempenham funções vitais. Estudos como o de Sonnenburg e Sonnenburg (2019) mostram que a diversidade da microbiota está diretamente associada a dietas ricas em fibras de plantas locais e minimamente processadas. O contato frequente com os alimentos do entorno ajuda a fortalecer o sistema imunológico e a prevenir distúrbios metabólicos.
3. Economia ecológica e acesso
A comida que cresce naturalmente em uma região demanda menos insumos, menos transporte e menos processamento — logo, é mais barata e mais sustentável. Quando consumimos frutas da estação, grãos nativos e hortaliças locais, reduzimos custos logísticos e geramos renda no próprio território. Como bem sintetizou o pesquisador Carlo Petrini: ‘Comer local é um ato econômico, ecológico e político’.
4. Menor impacto ambiental
Segundo estudo de Poore e Nemecek (2018), publicado na Science, alimentos vegetais locais têm pegada de carbono drasticamente menor que alimentos ultraprocessados ou transportados por longas distâncias. Diminuir a dependência de cadeias globais de produção reduz o uso de combustíveis fósseis, embalagens e fertilizantes químicos.
5. Soberania alimentar e descolonização
A globalização alimentar impôs uma dieta padrão, com poucos ingredientes — trigo, milho, soja, carne bovina — que suprimiram sistemas alimentares tradicionais. Recuperar a comida local é também um processo de descolonização. É reapropriar-se de saberes indígenas, africanos, caipiras, ribeirinhos, sertanejos. É valorizar o que a avó ensinou, o que o quilombo preservou, o que a mata oferece.
6. Saúde pública e prevenção de doenças
Alimentos frescos, minimamente processados e adaptados ao ecossistema reduzem o risco de doenças crônicas como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão e cânceres associados à dieta. O Guia Alimentar para a População Brasileira (Ministério da Saúde, 2014) já recomenda privilegiar alimentos in natura locais e evitar ultraprocessados.
7. Conclusão – comida como elo entre corpo, cultura e planeta
Comer de onde se é não é apenas um retorno às origens — é um caminho de futuro. Um caminho que une saúde, justiça social e integridade ecológica. Ao apoiar políticas públicas como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) que privilegiam a agricultura familiar local, fortalecemos não só a saúde dos corpos, mas a vitalidade dos territórios. Comer local não é moda: é necessidade histórica.
Referências:
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed. Brasília: MS, 2014.
PETRINI, Carlo. Terra Madre: como não ser um consumidor, mas um coprodutor. São Paulo: Senac, 2010.
POORE, J.; NEMECEK, T. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science, v. 360, n. 6392, p. 987–992, 2018.
SONNENBURG, J.L.; SONNENBURG, E.D. The Good Gut: Taking Control of Your Weight, Your Mood, and Your Long-term Health. New York: Penguin, 2015.
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