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O imperador mosca

Do A Terra É Redonda, 04 de março 2025
Por ROBERTO SOUZA*



Imagem: Nixon Johnson

Stan Lee e a Marvel criaram o homem aranha, ‘super-herói’ dos nossos tempos. o espírito infantilizado do povo dos nossos irmãos do Norte resolveu criar ‘Trump – o imperador mosca’

1.
Assistia o mundo ao fim da escravidão; às auroras dos governos com medidas sociais visando o bem-estar de todos; à urbanização crescente e migração dos campos às cidades; ao demorado estertor do colonialismo; às organizações mundiais abrangendo todas as quatro civilizações e culturas principais. Era um lento, mas constante semear de melhores sementes.

Foram morrendo idealistas precursores e alguns impulsos positivos. Aquelas propostas foram sendo desobedecidas. Outras reações vieram e chegaram fortes adversidades ao mundo em duas guerras mundiais, e posteriores ‘tremores secundários’ políticos regionais, que se sucedem até hoje. Alimentados por um novo antagonista do mundo, como um novo herdeiro do Império Romano do Ocidente. Agora já em tentativa abrangendo todo o globo.

Sistemas complexos de informações com supercomputadores e aplicativos de alta tecnologia esquadrinham as nações pelo mundo como vítimas e obtêm respostas e dados indiretos altamente sensíveis e importantes para levar essas vítimas à exploração contínua e eternizada.

O Império assume feições, disfarces; pelo meio mágico do controle da mídia persuade, enfeitiça, engana, cria novos meios de fraudes e coação. O silogismo e a falácia, os ‘fakes’ passam a dominar.

O mundo se deixa iludir, aceita propostas enganosas. Os governos e elites empreendedoras desobedecem à Ética com suas próprias populações, que sempre dependem da correta orientação delas, como de uma bússola.

As elites das elites adormeceram por decênios, muitas fazem pactos ardilosos com o Império.

Vem não se sabe de onde o desejo de expulsar um povo inteiro lançando-o ao mar, dá-se a ordem de matá-lo, destruir tudo, roubar territórios, subtrair o mágico petróleo em reservas de perto de um trilhão de dólares. E muitos trilhões de outros povos são também visados com cobiça.

Faltam aos povos os meios, o dinheiro passa a ser aquele sancionado e viciado do maior devedor da história do mundo. Bloqueia-se, suga-se como uma sanguessuga, usa-se o dólar como arma.

Com os anos tornou-se evidente para o Mundo a extensão dos danos, dos débitos favorecidos do Império, financiando com o dinheiro das Nações exportadoras e até rivais, as guerras e loucuras de Wall Street e do Deep State e seu Complexo Industrial Militar. Surgem afinal os BRICS, buscando uma solução, ou se sujeitando a serem as próximas vítimas. Inicia-se um cuidadoso processo para a mudança necessária.

2.
Stan Lee e a Marvel criaram o homem aranha, ‘super-herói’ dos nossos tempos. o espírito infantilizado do povo dos nossos irmãos do Norte resolveu criar ‘Trump – o imperador mosca’.

Souza estava com Acácio, e lentamente dedilhava num velho violão um arranjo melódico monocórdico aleatório.

— Mas Souza, por que Imperador Mosca? – Perguntou inocentemente Acácio.

Souza respondeu: “Há mais de três mil anos os Cantos Védicos, com impressionante sabedoria já definiram sobre os quatro tipos de homens: “Os imperadores são atraídos pelas guerras como as moscas são atraídas pelo sangue; os maus se comprazem na luta e os homens honestos devem se afastar dos imperadores, das moscas e dos maus”.

— Quem são as Moscas? – Disse Acácio.

— As moscas são os que se aproveitam do sangue derramado. Os maus são aqueles que realmente guerreiam, e derramam o sangue dos maus do outro lado, dos inocentes e até de si próprios, e têm orgasmos nessa luta. As moscas, os especuladores, os negocistas, eles adoram o ‘blood bath’, o ‘blood in the streets’, como dizem os altos consultores de Wall Street, pois os seus lucros aumentam estratosfericamente.- Souza continuava dedilhado no violão.

— O povo dos EUA viciou-se com o império, com o domínio dos petrodólares – disse ele – as elites das suas elites perverteram-se acumulando trilhões de dólares em dívidas impagáveis, explorando todo o mundo, emitindo o dólar sem lastro, feito do ‘thin air’. Passaram a se auto-beneficiar, com ‘Quantitative Easings’, com o ‘Subprime’ e malandragens financeiras, de tal sorte que um quinto do PIB atual é dos setores financeiros. Eles mandam os prejuízos para o mundo e para sua própria classe média trabalhadora, que perdeu empregos industriais e sofreu com a inflação permanente, que só é controlada para não subir muito por artifícios dos altos financistas. Passaram a uma orgia de importações de tudo. Criaram as ‘bolhas de expansão ilimitada’, desde o ‘Dot-Com’, o ‘subprime’ nas hipotecas e no ramo habitacional, as ‘bolhas de tudo’. Conseguiram cresce-las indefinidamente sem estourá-las e levar à crise total, que agora está às suas portas.

— Isso tudo passaram a mostrar abertamente ao mundo seus próprios analistas de altas aplicações financeiras, que os eufemistas ainda chamam de ‘investimentos’ – prosseguiu – Como Rickards, Louis Navellier, Porter Stanberry, Martin Weiss, James Hickmann. Mesmo sendo especulatários da maior marca, têm noções críticas e mostram toda a podridão subjacente. Aí passaram a articular a mudança daquele ‘Deep State’ e seus imperadores economico-políticos, justamente para não perder suas posições de exploração do mundo na crise que se avizinha. Passaram a atacar o ‘crooked Biden’, o católico, o qual derrapou e envolveu-se cada vez mais em guerras impossíveis de vencer. Ele como cristão católico perdeu a maior chance de sua vida e a maior chance do próprio império e do complexo industrial militar, que seria a de dar um basta à ganância e genocídio sobre a Palestina. Bastaria ter contido firmemente o seu aliado, o seu “porta-aviões no Oriente Médio, obrigando à solução já definida há decênios dos dois Estados, bloqueada eternamente em benefício de não sei o que, e causadora de guerras locais eternizadas por quase oitenta anos.

— Em vez disso forneceu Biden o católico centenas de milhares de toneladas de bombas de 5 toneladas – acrescenta Souza –. Penetram fundo no subsolo e destroem tudo. Martirizaram os civis em Gaza e botaram abaixo 90% dos prédios.

— Ainda resolveu se meter na expansão da OTAN e fomentou uma guerra de irmãos às portas de Moscou – ainda se alongando Souza prossegue. Usou os ucranianos nazificados permissivamente. Desastre total para a memória de Biden, o católico, e para o império. Os do outro lado, mesmo crentes no excepcionalismo americano, viram que era a hora de trocá-lo por um trunfo do mal, Donald Trump, mesmo com todos os seus transtornos psicológicos já estudados e identificados por autores especializados, e com todos os seus crimes.

Após uma ligeira pausa Souza dedilha: Como um ser hostil Donald Trump tenta aniquilar os BRICS e sustentar à força o dólar cuja tendência é entrar em queda livre, o que também poderá trazer grandes riscos e crises, ao povo americano e a Wall Street, e de quebra, ao resto do mundo. Devia era parar os gastos militares, e às vezes parece aumenta-los criando uma nova corrida armamentista. Não se compenetra de que precisa humildemente resolver os débitos impagáveis dos EUA, buscando uma concordata a mais honrosa possível. Acabar com o predomínio de altos especuladores de Wall Street, os grandes bilionários donos do mundo. Ao invés disso, entrega os comandos a esses altos financistas, um bando de moscas mundiais. Visa ele certamente, vendo o desastre econômico próximo, que sua própria classe faça o milagre de continuar no controle, ficando em segundo plano que só será executado se for possível, o amparo ao povo e produtores menores, da ‘Main Street’, a Rua dos que produzem os bens e serviços. Quer que a casta superior dos bilionários não entregue o seu domínio. Segue assim um dito que muito expressa o povo dos EUA. O ‘don’t give up’, que significa ‘não saia de cima’. Aliás Donald Trump mandou colocar no brasão que encomendou a um heráldico escocês há muito tempo, em latim, “nunqam cedere”, que quer dizer a mesma coisa.

Acrescenta Souza visionariamente – Um moribundo no mundo suplica. Bloqueados e sancionados, prisioneiros no mundo pedem libertação. Pedem uma nova partilha. Mas não sabem ou conseguem repartir. Precisam muitos de alimentos. Fica o mundo impotente? Há para os BRICS auxiliares mágicos – e ainda completando o pensamento – deverão os BRICS fazer tudo isso, e também reconciliar os contendores. Só assim se salvam os BRICS dos ataques. Assim como o FED precisa de forma vital nos próximos anos que o mundo continue a comprar as ‘Treasuries’ impagáveis, com aportes de 28 trilhões de dólares, os BRICS e as nações precisam também vitalmente sair do dólar. Para não desestabilizar mais os EUA e o mundo poderão os BRICS ‘comprar’ as ‘Treasuries’ já pertencentes aos seus Estados membros, garantindo a esses membros o valor dessas ‘Treasuries’, com o mínimo de perdas pela permanente e multidecenial inflação do dólar, ou garantias mínimas no caso de uma muito possível hiperinflação do dólar. Dessa forma ajudariam os EUA e amparariam o povo americano a não entrarem em crise violenta e danosa ao mundo inteiro, ao mesmo tempo que sairia o mundo desse injusto e danoso privilégio do dólar e seus bloqueios e sanções.

Já angustiado e curioso, Acácio finalmente falou: – E Donald Trump, quem é, e o que fará? O que nos aguarda pela frente nesse mundo de Deus, de Alá, dos deuses Hindus e do Tao Chinês?

— O passado de Donald Trump mostra esse futuro e o que acontecerá com os americanos e com o mundo – disse Souza, prosseguindo – Donald Trump não é um guerreiro, um verdadeiro Imperador. Não se enganem. Ele tirou o ‘High School’ numa autodenominada ’Academia Militar de Nova York’, que era um internato privado na realidade. Isso foi com 17 anos. Depois, sucessivamente nos vários anos da juventude esquivou-se do serviço militar no Vietnã, e formou-se em economia. Sabia que para nada prestava participar daqueles anos e tentativas frustradas do Império de impedir a reunificação do Vietnã. Ele nunca foi um daqueles capazes de coragem física, arriscando sua própria pele e a dos seus, como um patrioteiro. Sempre foi na verdade um aproveitador das facilidades governamentais, dos fundos públicos, na área habitacional, onde fez fortuna e diversificou. Aí cometeu sistematicamente tremendas irregularidades e desvios, até mesmo crimes, tendo suas organizações mais de quatro mil processos, com diversas condenações, falências, concordatas, engodo aos financiadores e bancos etc.

Como que inspirado, nesse quase monólogo, Souza vai perorando. – Na verdade, com sua enorme experiência como demandista, em negociatas, concordatas e falências, talvez o povo americano tenha vislumbrado nele uma possibilidade melhor para a falência dos EUA, sem precisar ‘virar a mesa’, destruir o resto do mundo, procurando como é uma característica do espírito americano, ‘não sair de cima’, o ‘don’t give up’. O Excepcionalismo dos Americanos, e até do próprio Donald Trump, não possui a grandeza e a sensatez de um Gorbachov, que na crise da URSS podia virar a mesa na Europa, mas não o fez, confiando até em promessas falsas em acordos secretos com os EUA e OTAN de não expandir ameaçando as portas de Moscou, depois descumpridas pelo Deep State. E veja só, Acácio, naquela ocasião um Ronald Reagan radical no excepcionalismo e na mania dos EUA de ser o ‘Universal Cop’, chamou a URSS de Império do mal.

— Donald Trump com efeito é antimilitar por visceral tendência, até herdada – ainda fala Souza -. Uma feliz tendência, ao lado de enormes defeitos. Até o ex-senador Ron Paul, homem seríssimo que foi também anteriormente candidato dos libertários à presidência, reconheceu que ele é capaz sim de cortar as despesas militares ao meio, tanto nos EUA como nas outras potências. E ele hoje já está prometendo isso.

Premonitoriamente Souza aduz: — Assim os BRICS devem deslocar-se entre dois reinos, uma viagem com um guia. Será como um homem sem braços carregando outro sem pernas. Disse ainda: Dessa forma o combate não chega a realizar-se, e os BRICS vencem com a esperteza nesse jogo de cartas, nessa balança do mundo. – E continua sua previsão – Numa possível rápida sucessão de ações, serão reparados os danos do império ao mundo. Com iscas, propostas de troca. Como resultado de ações precedentes. A pobreza terá grandes avanços na sua supressão. O mundo enfeitiçado volta ao normal, o moribundo ressuscita. Os bloqueios e sanções desfeitos libertam os prisioneiros – otimista ainda prossegue – retornaremos ao progresso real das sociedades humanas. Donald Trump, entretanto pode correr riscos de assassinato ou ficar incapaz assumindo D. J. Vance. – Com brilho nos olhos finaliza Souza: — Os BRICS terão alguns poucos perseguidores, mas não se deixam devorar. As nações do mundo esposam os novos grupos mundiais em um renovado espírito.

*Roberto Souza é engenheiro.

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